quarta-feira, 30 de abril de 2014

Script | Um encontro com... o Passado

Olá Flash 
Hoje vou mostrar um texto que escrevi para Filosofia. Foi-nos dada a liberdade de escrevermos sobre o que quiséssemos desde que o título do texto fosse "Um encontro com...".
Espero que gostem.




No outro dia estava a voltar da escola com os meus amigos quando fui abordada por um senhor de mão dada com uma menina.
         A menina tinha cabelos pretos e lisos, olhos verdes cintilantes e um sorriso que iluminava uma sala inteira. Ela devia ter uns cinco anos e na mão que não se encontrava a dar ao avô trazia uma bola adornada com uns desenhos coloridos.
         Ela estava a dar a mão a um homem já de alguma idade que parecia ser o seu avô. Este homem tinha também olhos verdes, semelhantes aos da neta, talvez um pouco mais claros. Não era muito alto mas também não era muito baixo.
         O senhor abordou-me e perguntou-me:
         - Desculpe menina, por acaso o seu nome é Rita?
         Eu respondi-lhe que sim gentilmente mas devo admitir que estava algo intrigada.
         Disse, entretanto, aos meus amigos para continuarem sem mim que já os apanhava.
         - Não sei se te lembras de mim – Agora já me tratava por tu e eu tinha a impressão que o conhecia de algum lado.
      - Desculpe mas não o estou a reconhecer. – Disse eu tentando fazer um esforço para me lembrar de onde conhecia aquele adorável senhor.
     - Eu era muito próximo dos teus pais, do teu pai principalmente. – Continuou ele sorrindo suavemente – Diz-me Rita, és feliz com a vida que levas? – Perguntou ele enquanto a menina brincava com a bola.
         - Sim, pode dizer-se que sim mas... porquê? – Respondi eu cada vez mais intrigada e agora já um pouco irriquieta.
        - Por favor, guarda as tuas perguntas por um bocadinho, responde primeiro às que eu te irei colocar... está bem?
         Acenei com a cabeça mas continuava confusa. Tive no entanto que perguntar algo que ele pudesse continuar.
         - Desculpe mas diga-me só: como se chama?
         - José – Respondeu ele com uma voz suave.
         Quando ele disse isto todo o meu corpo estremeceu.
         - Continuando... Achas que tens tomado boas decisões?
         Acenei novamente.
         - E pensas em alguém em específico quando tomas algumas delas? Nas mais importantes? Pensas no que faria esse alguém face a essas situações?
         Disse que sim, mas neste “sim” a minha voz saiu com um tom diferente do habitual. Sem mais nem menos fiquei com lágrimas nos olhos.
         - Então, sentes que tens alguém a proteger-te certo? Sentes que tens alguém a guiar-te, alguém a ajudar-te não é?
         Todas as palavras que aquele homem proferia afetavam-me de um modo inexplicável. O meu coração estava a bater mais depressa e com mais força. Estava a sentir algo que não tinha sentido nunca. Parecia que o alguém que me guiava, que me protegia e que me ajudava já não estava lá mais. Já não estava no sítio que eu não conhecia mas que sabia onde era. Parecia que tinha mudado e estava... mesmo à minha
         A voz da menina trouxe-me de volta. Fez-me voltar dos meus pensamentos e naquele momento em que ela chamou pelo avô ela fez-me perceber tudo.
         - Vejo pelos teus olhos que já entendeste quem sou e quem é a minha neta. Acho que as tuas perguntas desapareceram.
         Eu estava em choque.
         - Quero que saibas que quando pensas que existe nalgum sítio alguém a cuidar de ti de formas que tu não consegues entender, existe mesmo. E Rita, por favor, pára de exigir tanto de ti. Os teus erros e quem perdes ao longo da tua vida só servem para te tornar mais forte. Acredita nisso.
         E da mesma forma que apareceram, o meu avô, que morrera quando a menina tinha oito anos, de leucemia, e a Ritinha, a mesma menina que brincava com a sua bola com o avô nas tardes de quarta-feira quando tinha cinco anos, desapareceram.
         Fiquei parada a vê-los partir, a desaparecer, porque às vezes temos de deixar partir as pessoas que não queremos que partam.
         Mas naquele momento eu soube que o meu avô e a menina de fita que eu era vão continuar sempre de mãos dadas, a proteger-me e a lutar por mim para que eu me torne numa pessoa melhor todos os dias e que nunca, mas nunca, me irão deixar. E é nisso que eu tenho de acreditar, porque eu tenho de acreditar em algo e eu prefiro acreditar que serei sempre a menina do avô. 




XOXO



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